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domingo, 10 de janeiro de 2010

Spider


Olá! mais um filme interessante para se pensar, eu fiz uma pesquisa sobre ele, vale a pena.
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Sinopse: Spider (Ralph Fiennes) é um sujeito estranho e solitário. Após um longo período de internação em um hospital psiquiátrico, ele regressa às ruas do East End de Londres, lugar onde cresceu. As imagens, os sons e os odores dessas ruas começam a despertar lembranças de sua infância que há muito haviam sido esquecidas. No coração das memórias de Spider encontra-se o grande trauma da perda de sua mãe. Ele acredita que seu pai, o encanador Bill Cleg (Gabriel Byrne), matou a esposa para que uma prostituta tomasse seu lugar e fosse morar em sua casa. (extraído do site adorocinema.com.br)
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Spider: Um mergulho na psicose
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O filme Spider se inicia com a cena em uma estação de trem em que aparecem diversas pessoas vestidas com roupas atuais descendo do trem e andando apressadamente pela estação, nesse momento surge o protagonista: Spider, ele ao contrário dos outros personagens dessa cena, ele se veste com uma roupa atípica para a época, ou seja, mantendo uma aparência antiga e com um aspecto sujo. Nesse momento é apresentada uma caracterização do protagonista a partir da relação do psicótico com o mundo. Podemos supor que isso tenha relação com o que afirma Coutinho em que o psicótico apresenta maneirismos e estereotipias e isso se firma tanto em relação ao modo do personagem se vestir como a sua gestualidade e também a partir de uma “descontextualização” dele em relação ao ambiente em volta. Outra cena que também pode explicitar o que foi mencionado anteriormente é a cena em que o Spider abre a sua mala, e ela é apresentada toda bagunçada e despedaçada, o que revela uma grande confusão, uma falta de organização. Podemos pensar que a mala representa a sua própria fragmentação egóica, narcísica e corpórea, como descrito por Coutinho. Nas cenas seguintes temos exemplos de Spider no lugar de objeto do Outro. Uma dessas cenas é quando ele chega ao asilo e é recepcionado pela Sra. Cleg, que apresenta o ambiente e se coloca em lugar materno, em que cuida dele como, por exemplo, na cena em que ela quer dar banho nele, no entanto ele se recusa. Quando ele se vê nessa posição de objeto, pode ocorrer o que Quinet (2006) afirma, ou seja, o retorno do foracluído, podendo se utilizar dos mecanismos de narcisismo e dos fenômenos imaginários reaparecendo e surgindo no exterior o que estão interno, como vozes, pensamentos e sensações que parecem vir de fora.
Nas próximas cenas o protagonista começa a ser afetado por lembranças infantis, isso é explicitado na cena em que ele começa a ter alucinações olfativas, sentindo cheiro de gás. Quinet (2006) afirma que a resposta do psicótico em momentos de grande sofrimento e angustia é o surto, dessa maneira, Spider pode estar entrando em contato com as lembranças infantis rememoradas a partir dessa posição de objeto com a Sra. Cleg, ou mesmo ele pode estar se deparando com uma situação em que ele se sinta no momento da castração (Quinet, 2006). Isso faz com que ele comece a ter delírios e alucinações a fim de criar uma realidade para colocar nesse lugar. Essas memórias são insuportáveis, e ele a partir disso começa a alucinar, colocando no exterior na forma de alucinação aquilo que ele não pode agüentar.
A partir desse momento, o filme começa a ter um movimento no sentido de uma construção delirante de Spider, em que lembranças infantis e elementos delirantes e alucinatórios passam a se misturar, e não se sabe o que é real, e o que é delírio. No entanto, nesta análise iremos partir de um pressuposto que todas as cenas sendo elas delírios ou lembranças são importantes para a investigação da psicose, já que tanto para nossa análise quanto para o andamento do filme passa a ser indiferente e se trata de um delírio ou uma lembrança.
Agora descreverei uma cena que o Spider se depara com o momento da castração em o pai dele sai para passear com a mãe e o Spider observa os dois se beijando, e ele se mostra nervoso ao observar aquele momento. Podemos supor que a partir daí, o protagonista não suporta e foraclui criando assim uma construção delirante, sendo que esse delírio acaba por sustentar essa relação dual que é uma marca da psicose, em que há um furo na realidade e o psicótico se conforta a partir do delírio. Em relação ao corpo, podemos entender a partir da afirmação de Goidanich em que parece ser justamente nessa paradoxal relação de alienação no outro e separação que incide uma das problemáticas da estruturação das psicoses. Ou seja, a possibilidade de jogar com a imagem da integração corporal, para a qual é preciso ocorrer a simbolização de um significante paterno que viabilize o processo de separação do outro, é que não ocorre nos casos de estruturações psicóticas.
De acordo com Ribeiro (2006) “no lugar do recalque o psicótico recusa a lei da separação, mas ao mesmo tempo desinveste primariamente sua libido nos objetos. Numa tentativa secundaria de recuperação do objeto (...)” (p. 65). O que Spider faz é criar um delírio em que o pai passa a ter uma amante que é uma prostituta. Podemos supor que ele coloca esse delírio no lugar da realidade para tentar recuperar o objeto, sendo este a mãe, ou seja, ele delira que o pai não gosta realmente dessa mãe, o que faz com que ela se volte novamente para o filho.
O pai é aquele que surge como um opositor a relação dual que se estabelecia entre o Spider e a mãe. Assim ele passa a ser aquele que no delírio do Spider é colocado em um lugar de traidor, já que trai a mulher e conseqüentemente a mata, ou seja, o pai mata a mulher e coloca a amante dentro de casa, e isso ocorre porque esse pai real evidencia o buraco no registro simbólico do Spider Dessa maneira, o delírio do Spider passa a se completar já que ele pode afirmar que não é mãe que não o ama, mas sim ela está morta, voltando a restabelecer essa relação com o objeto, recuperando-o no seu delírio, e ele volta a suprir essa falta do significante primordial.
Agora eu destacarei cenas do filme em que a questão do corpo fica mais evidenciada. Partindo da afirmação de Goidanich (2003) em que “É a impossibilidade de apropriar-se de um corpo com suas marcas singulares, a impossibilidade de percebê-lo como formando certa unificação, que está exacerbada na psicose.” (p. 68). Isso é apresentado na cena em que o Spider está almoçando juntamente no albergue, e é possível observar o Sr. Cleg vestido com cerca de quatro camisas, uma em cima da outra, e quando a Sra Wilkinson pergunta por que de tantas camisas, o colega dele responde que “a roupa faz o homem, quanto menos homem mais roupa se precisa” (sic). Podemos supor que essas camisas estariam dando contorno a esse corpo que precisa ser integrado.
A partir da cena descrita acima, podemos pensar que essa sensação que o Spider sente em relação ao seu corpo, ou seja, que precisa ser agregado anuncia a forma como o psicótico reconhece o seu corpo, assim como descreve Goidanich em que nas psicoses, por outro lado, e especialmente nas montagens esquizofrênicas, mesmo uma primordial busca especular de integração fracassa. O outro não devolve uma imagem integradora e o que se passa é que o sujeito permanece totalmente alienado, absorvido como uma parte deste. Pode-se dizer que as esquizofrenias constituem, assim, o mais vivo exemplo do corpo despedaçado. Outro momento marcante que aponta essa relação com o corpo é quando ele está em seu quarto e está começa a alucinar sentindo um cheiro forte de gás, e começa a tirar roupa e enrolar jornal e plástico no seu corpo. Talvez essa sensação de perda da delimitação do corpo a partir de algo que é ameaçador tem necessidade de ganhar os limites corporais que não são uniformes.
Para Concluir, podemos afirmar que no sujeito esquizofrênico o corpo é algo muitas vezes alheio a ele mesmo, sendo que este só toma conta deste corpo quando ele está em surto. Já que esse corpo alheio passa a lhe acometer sensações de despedaçamento, ou mesmo de perda de limites corporais, como podemos observar no filme, quando Spider se reveste de jornal a fim de dar limites a esse corpo, que até então estava alheio, em que ele necessitava utilizar diversas camisas para dar contorno.
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Referencial
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COUTINHO, Alberto Henrique Soares de Azeredo. Schreber e as psicoses na psiquiatria e na psicanálise: uma breve leitura. Reverso. [online]. set. 2005, vol.27, no.52, p.51-61.
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QUINET, Antonio. Teoria e clinica da psicose. Editora Forense 2006.
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RIBEIRO, Mariana Mollica da Costa. O Riso Na Clinica Das Psicoses. Rio de Janeiro: 7 letras, 2006.
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GOIDANICH, Márcia. Configurações do corpo nas psicoses. Psicologia & Sociedade; 15 (2): 65-73;jul./dez.2003.
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Ass: Paulatictic

Um comentário:

  1. Depois de ler tudo isso meus olhos estão ardendo. rs
    E eu com certeza terei que adiantar esse filme, que está em minha lista de espera.

    Deveras interessante. =)

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